De acordo com a EY CEO Outlook Survey 2022, a transformação digital é a segunda questão de capital mais relevante para indústrias químicas em todo o mundo.
A transformação digital é a segunda questão de capital mais relevante para indústrias químicas em todo o mundo, segundo a EY CEO Outlook Survey 2022. Seus líderes estão implementando, cada vez mais, a digitalização para alcançar o crescimento dos negócios e as metas de sustentabilidade.
A grande variedade de tecnologias aumenta a eficiência das funções químicas desde a pesquisa e o desenvolvimento até o fim da cadeia de valor no atendimento e suporte ao cliente. Nesse ambiente dinâmico, a preferência e o potencial de qualquer tecnologia dependem das necessidades e prioridades urgentes das organizações. “Fazer investimentos em inovação é o único caminho para se contornar incertezas cada vez mais frequentes em nossos dias e, também, nos produtos, processos e negócios das indústrias químicas. A transformação digital é o meio ideal para se implementar soluções para esse problema”, afirma Alexandre Boschi, gerente sênior da EY de consultoria em Supply Chain, Value Chain, Logística e Manufatura. Em 2020, o potencial percebido pelas indústrias químicas foi concentrado na melhoria e integração da análise de dados (42%). Este ano, houve uma mudança: diminuiu para 35% a análise de dados e aumentou para 30% a análise digital em segurança (de 26% em 2020). No entanto, apesar dessa diminuição, a análise de dados aprimorada (35%) e a integração (30%) estão entre as áreas de alto potencial. A pesquisa mostra que a falta de pessoal qualificado foi um desafio fundamental em 2020 para 47% dos entrevistados. No entanto, no levantamento deste ano, pouco mais de um terço citou isso como um problema. Atualmente, as empresas enfrentam desafios para desenvolver uma infraestrutura técnica robusta (40%), atender a necessidade de investimento (38%) e desenvolver sistemas seguros (38%). Outro dado é que mais de 80% dos entrevistados estão dando tanta importância ao meio ambiente, social e governança (ESG) e sustentabilidade quanto ao crescimento da receita. Em entrevista à Agência EY, Boschi fala sobre por que a indústria química está priorizando a digitalização, como a indústria 4.0 impacta no setor químico e os desafios das empresas brasileiras. Por que investir ou não investir em digitalização para crescimento e eficiência é agora uma pergunta retórica para as empresas químicas? Dados de mercado consideram que a indústria química participa com quase 6 bilhões de dólares para o produto interno bruto global e que emprega cerca de 120 milhões de pessoas em todo o mundo. De uma forma geral, os produtos elaborados pelas indústrias químicas são utilizados em diversos outros produtos dos mais variados segmentos. As cadeias de valor das indústrias químicas são movimentadas fortemente por inovações em seus processos produtivos e os modelos de negócio seguem a tendência global de uso de novas tecnologias tais como as digitais. A melhoria dos controles pode ser citada como uma oportunidade de uso da digitalização na indústria química. Sabe-se que a aplicação de soluções digitais deve iniciar com a revisão da estratégia organizacional, redefinindo os objetivos estratégicos digitais e, a partir deste, identificar as tecnologias que ajudarão a organização a direcionar seus esforços em digitalização para crescimento e melhoria na eficiência dos negócios. Como em qualquer indústria vertical, a pandemia de Covid-19 tem aumentado consideravelmente o ímpeto da digitalização entre as plantas químicas. É certo que a pandemia alterou os planos da maioria das organizações, mas a retomada tem sido acelerada por investimentos elevados. Estima-se que atualmente estão sendo investidos cerca de 500 milhões de dólares em soluções digitais nas indústrias químicas em busca de novas oportunidades de melhoria em produtos e processos. Segundo o professor Marco Coghi, especialista e pesquisador em Transformação Digital na Indústria Química da Unicamp, investir em transformação digital não deveria buscar crescimento e eficiência, mas sim buscar, ou ajudar a buscar os objetivos do planejamento estratégico da organização. Quaisquer iniciativas em transformação digital que não estejam apontadas para um objetivo estratégico, a meu ver, está se perdendo tempo. Fazer investimentos em inovação é o único caminho para se contornar incertezas cada vez mais frequentes em nossos dias e, também, nos produtos, processos e negócios das indústrias químicas. A transformação digital é o meio ideal para se implementar soluções para esse problema. O que impulsiona ou dificulta o sucesso da digitalização na indústria química? Com o advento da Indústria 4.0 no início da última década, todos os segmentos industriais buscaram redefinir suas estratégias visando manter-se num patamar elevado de competitividade. Tal como outros setores, diversas organizações partiram de uma forma desestruturada para implementar tecnologias digitais sem que tivessem reavaliado suas estratégias e seus objetivos. Isso naturalmente trouxe um certo nível de incerteza quanto à necessidade de se implementar soluções digitais. Mesmo assim, as empresas que seguiram uma proposta de criar uma jornada de transformação digital começaram a capturar resultados e novas oportunidades surgiram. A indústria química, na sua grande maioria, opera com sistemas contínuos ou de lotes controlados, e a melhoria nos controles dos processos traz benefícios de produtividade ao negócio. A globalização traz, em outra vertente, uma exigência de clientes ávidos por produtos melhores e mais baratos, impulsionando a busca por novas tecnologias e controles. Kai Zhang, o diretor de soluções de software de I&D da Perkin Elmer, fez um comparativo entre as indústrias farmacêuticas e as indústrias químicas no tocante ao uso de soluções digitais e afirmou que o uso de dados das pesquisas acadêmicas na indústria farmacêutica possibilitou um avanço muito maior quando comparado ao setor químico. Os testes de hipóteses foram mais rapidamente confirmados acelerando o ciclo de vida de desenvolvimento de novos produtos. Segundo o Gartner, as plantas químicas com um nível de maturidade digital mais elevada tendem a aumentar seus investimentos enquanto as outras limitam-se a esforços isolados, criando assim um abismo cultural da digitalização no setor. Essas indústrias mais maduras estão direcionamento seus esforços de digitalização para os processos produtivos buscando maior velocidade e resposta às demandas do mercado. Na outra vertente, as indústrias químicas com menor maturidade buscam investir em melhorias de qualidade no processo como um todo. No entendimento do professor Marco Coghi, o que impulsiona o sucesso é a quantidade de oferta de soluções tecnológicas que crescem em proporção geométrica a cada semana. E, por outro lado, o que dificulta é a falta de cultura da alta administração em gestão profissional de mudanças e stakeholders. Para mim, aí está a maior componente do insucesso. De acordo com a EY CEO Outlook Survey 2022, a transformação digital é a segunda questão de capital mais importante para os players químicos em todo o mundo. Por quê? A constante necessidade de otimizar os processos, diminuir desperdícios, aumentar a segurança dos produtos e dos colaboradores e, recentemente, a tendência do mercado em investir em ESG geraram a necessidade de direcionar esforços e concentrar investimentos em soluções que possam agregar todos esses objetivos de uma forma estruturada e robusta para as organizações. As tecnologias digitais emergentes incluem IoT (internet das coisas), Data Analytics (análise de dados), Machine Learning (“máquina aprendendo” com os dados analisados), Blockchain (rede/ banco de dados imutáveis), Cloud Computer (computação na nuvem), Artificial Intelligence (inteligência artificial), Aumented Reality (realidade aumentada), entre outras, e possibilitam aplicações em diversos processos organizacionais e consequentemente vantagens competitivas. O principal vilão nesse cenário são as corriqueiras e frequentes incertezas que afetam os produtos, processos e negócios das indústrias químicas. Não existe outro caminho que não seja investir em inovação como um fim e transformação digital como um meio. Ainda de acordo com a pesquisa do EY CEO Outlook Survey, mais de 80% das indústrias químicas estão dando tanta importância aos aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) e à sustentabilidade quanto ao crescimento da receita. O que acha disso? A inclusão de critérios de ESG nas decisões de investimentos e na concepção de produtos financeiros tem sido uma realidade. Eu mesmo acabo de participar de um HazOp (Hazardous Operation), cuja finalidade era, além de diminuir riscos de contaminação dos solos, melhorar a segurança dos operadores, para enfim melhorar a governança da planta, juntos e unidos para um único fim – aumentar o valor das ações da organização multinacional química na Bolsa de Valores Mundial. Num mundo cada vez mais cheio de incertezas e gestão por abordagem adaptativa, investidores se sensibilizam para correlacionar riscos versus desempenho socioambiental, seguindo agenda do mainstream¸ que avança para um consenso de que resultados positivos de ESG possuam potencial para transformar a sociedade e negócios empresariais. Como a indústria 4.0 impacta o setor químico? A indústria 4.0 nasce a partir da conjunção de soluções durante evento em Hannover em 2011, quando se debateu a oportunidade de conectar “as coisas” por meio de uma rede (ex.: internet), tornando os equipamentos “comunicáveis”. Nesses pouco mais de 10 anos tivemos avanços exponenciais no uso de diversas soluções, nos mais diversos segmentos. No âmbito produtivo, pode-se melhorar o monitoramento dos equipamentos, reduzir o dispêndio de manutenção por meio da previsibilidade de quebras com o uso de análise de dados coletados por sensores (IoT) instalados nos equipamentos que monitoram, por exemplo, temperatura, vibração, níveis de pressão de ar, óleo e outros, e que, de forma preventiva, podem ser ajustados ou corrigidos antes da ocorrência de quebras. A própria característica da indústria química sugere o uso de maiores níveis de controle operacionais e as tecnologias de captura e análise de dados potencializam a otimização dos processos e sistemas. Uma outra aplicação que pode ser citada com o uso de dados na indústria química é a avaliação das demandas e dos estoques, adequando os programas de produção a níveis mais assertivos, reduzindo custos fixos e elevando a margem de lucro. Novas soluções estão sendo apresentadas ao mercado pelos desenvolvedores de tecnologias. Um exemplo é o Digital Twin (gêmeos digitais) que reproduzem uma planta, ou um processo específico criando um cenário de testes e desenvolvimento de novas soluções sem interferir no dia a dia da operação. Marco Coghi cita os fatores que a Jornada Indústria 4.0 pode proporcionar para a Indústria Química, como sincronizar o negócio com a produção por meio de informações certificadas; otimizar a cadeia de valor; implementar projeto e engenharia colaborativos; implementar a filosofia “Operador Mantenedor”; gerar valor pela delegação de poder às pessoas e medição de seus resultados; priorizar as necessidades do cliente; habilitar a colaboração entre todos os funcionários de todas as hierarquias; buscar a operação autônoma incremental de equipamentos, unidades, células, áreas, site e, por fim, corporação. Como as indústrias químicas brasileiras estão posicionadas na questão da digitalização? A indústria química, por sua característica original, é provida de certo grau de automação e controle, porém a constante evolução do mercado, novos concorrentes e principalmente o aumento da exigência de clientes por melhores produtos e custos menores motivam as organizações a identificar soluções que atendam esses anseios. Outra característica muito presente na indústria química é a necessidade de um elevado grau de segurança operacional. Alguns produtos químicos são considerados perigosos e necessitam de um sistema de segurança operacional confiável para evitar acidentes com os seus funcionários. Esses produtos também podem ser considerados nocivos ao meio ambiente e seguem regulamentações muito rígidas. A transformação digital requer, conforme dito anteriormente, uma série de fatores para ser implementada nas organizações. Um desses fatores é o nível de qualificação da mão de obra. Esse fator, mesmo que presente em outros setores, é agravado na indústria química pelos requerimentos de segurança, conformidade e sustentabilidade ambiental. A Associação Petroquímica e Química do Golfo (GCPA) afirma que apenas 15% das empresas têm um processo de recrutamento eficaz para o talento digital. Globalmente, a falta de empregados qualificados é a maior barreira à digitalização, citada por 40% das empresas. Ainda que não exista uma estatística mais robusta, sabe-se que existem diversas iniciativas e estudos focados em solucionar um problema específico, porém existe um direcionamento para a indústria química avançar na digitalização ainda que não seja a partir de uma jornada de transformação digital estruturada. Sabe-se, segundo Coghi, que a infraestrutura tecnológica vem avançando substancialmente e que muitos investimentos deverão sair do papel já em 2023. Fonte: Agência EY